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terça-feira, 2 de outubro de 2007

PSTU e o Sectarismo - A saga infindável do peleguismo




O PSTU e os boxeadores cubanos

Por Altamiro Borges

Texto publicado no site do PSTU, intitulado "Governo Lula entrega atletas cubanos à ditadura castrista", gerou forte mal-estar entre os lutadores dos movimentos sociais brasileiros. O artigo é similar aos ataques publicados pela mídia burguesa, insinuando um complô entre as diplomacias e as polícias das duas nações. Mesmo registrando que os boxeadores Guilhermo Rigondeaux e Erislandy Lara foram envolvidos numa jogada pelo "empresário alemão Michael Doering, um oportunista ávido em ganhar milhões", e que ambos manifestaram o "desejo de voltar a Cuba", o PSTU não perdeu a chance para reafirmar sua histórica e sectária oposição ao líder Fidel Castro.

Repetindo frases que abundaram na mídia venal, o artigo afirma que "a deportação foi recheada de suspeitas", que ela sugere "um pacto de silêncio entre Lula e Fidel" e que a "história é difícil de engolir". Bem ao estilo das suposições irresponsáveis da revista Veja, que nada fala sobre o campo de tortura dos EUA em Guantanamo, mas sempre acusa a ilha revolucionária de ser uma ditadura sanguinária, o PSTU optou por acolher insinuações sem provas. "[É] bastante provável que os atletas tenham sofrido ameaças de represálias a parentes que permaneceram em Cuba. As ameaças seriam de prisões, perda de casas e de empregos ou coisas ainda mais graves".

Idealismo e visão dogmática

O ataque descabido serve ao propósito de desqualificar a experiência do socialismo cubano. Para o PSTU, principal filial da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), Cuba é hoje uma nação capitalista, governada por "stalinistas". "Graças à revolução, ela conquistou avanços imensos em áreas como educação e saúde... No entanto, tudo está retrocedendo. Acreditamos que o problema que ela enfrenta é que o capitalismo já foi restaurado na ilha pela própria direção castrista". É como se a soberania nacional, as conquistas sociais da revolução e os avanços na organização popular tivessem sucumbindo e hoje predominassem apenas "as mazelas capitalistas" em Cuba.

Com base nesta visão dogmática e idealista, que não leva em conta nem os 47 anos do criminoso bloqueio dos EUA, o PSTU usa o incidente nos Jogos Pan-Americanos para fazer suas intrigas. "A desigualdade social e a miséria crescente fazem com que os atletas cubanos se sujeitem a aliciadores oportunistas que procuram obter vantagens financeiras. Por outro lado, o regime - uma ditadura que proíbe liberdades democráticas elementares, como sindicatos independentes, greves, jornais autônomos, livros e até viagem de seus cidadãos a outros países - faz ameaças contra os seus parentes, caso abandonem o país, algo tipicamente stalinista".

O final do artigo é deplorável, algo para não ser esquecido e sempre ser cobrado. "Se por um lado não é aceitável que empresários oportunistas e corruptores se aproveitem da situação dos atletas, por outro, é inaceitável que Lula os entregue ao ditador Fidel Castro. Não foi oferecido asilo, não se atuou como quem está perante uma ditadura. A impressão é que o governo fez um favorzinho para um amigo, um compadre. O que Lula deveria ter feito era dar asilo político aos atletas... A deportação dos cubanos só pode ser vista com um ato explícito de repressão". Este trecho bem que poderia ser publicado, com letras garrafais, na capa da revista Veja.

Uma trajetória de equívocos

Esta não é a primeira vez que o PSTU, na sua obsessão por demarcar campos e se autoproclamar como a "única e pura" organização revolucionária do cosmos, ataca movimentos e governos que são aliados na luta contra o imperialismo e que buscam, com suas limitações, superar a barbárie capitalista e construir o socialismo. Há poucas semanas atrás este partido surpreendeu o conjunto da esquerda ao criticar o fim da concessão pública à emissora golpista RCTV, taxando a medida de ditatorial e, repetindo o clichê, "stalinista". No passado, esta corrente, fiel seguidora das idéias do trotskista argentino Nahuel Moreno, fundador da LIT, já cometeu outros erros semelhantes, decorrentes da concepção dogmática e do "otimismo voluntarista". Vale relembrar alguns casos:

Um que ficou famoso, gerando irônicos comentários na esquerda mundial, se deu na Nicarágua em 1979. Em pleno processo revolucionário nesta nação centro-americana, a corrente morenista decidiu organizar a Brigada Simon Bolívar e enviar militantes de vários países para engrossar a guerrilha contra a ditadura de Somoza. Após a vitória da revolução sandinista, ela passou a fazer oposição ao novo governo de reconstrução nacional, taxando-o de "burguês e pró-imperialista". Acusando o grupo de fazer o jogo do imperialismo, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) decidiu, em agosto de 1979, expulsar os seus membros não nicaragüenses do país.

O Secretariado Unificado da IV Internacional, que na época ainda reunia o grosso das correntes trotskistas, enviou então uma delegação a Manágua para averiguar o caso. Esta declarou, em 3 de setembro, que "todas as atividades que busquem hoje em dia criar divisões entre as massas mobilizadas e a FSLN são contrárias aos interesses da revolução. Este é o caso, em especial, da Brigada Simon Bolívar. Numa situação política e econômica que exige a maior unidade na luta possível, a FSLN teve razão em exigir que os membros não nicaragüenses deste grupo saiam do país". O deprimente episódio ocasionou mais uma fratricida divisão no trotskismo mundial.

Euforia diante da débâcle da URSS

Outra passagem triste na história da LIT - e das esquerdas em geral - se deu com a desintegração da URSS e do bloco soviético, a partir do final dos anos 80. Na clássica tese trotskista, estes regimes seriam "estados operários degenerados", que demandariam "revoluções políticas" para retomar o curso socialista. Moreno, porém, tratou de "atualizar o Programa de Transição", de Leon Trotsky, prevendo duas etapas nesta estratégica: a "revolução de fevereiro", democrática, seguida da "revolução de outubro", socialista. Com este esquema unilateral, a LIT e suas filiais saudaram, eufóricas, os tristes episódios que resultaram na restauração capitalista na região.

Seu III Congresso, em 1990, festejou. "Do mesmo modo em que os últimos meses significaram uma virada histórica para a humanidade, eles foram para a LIT o salto para ganhar influência em setores de massas... O trotskismo está vivo porque a revolução mundial matou o stalinismo e colocou em marcha a grandiosa luta de massas... Está se abrindo a hora do socialismo com democracia". Tamanho erro de cálculo custou caro. Como repisa uma seita rival, com base nesta leitura, "o morenismo apoiou os movimentos que serviram de ponta de lança do imperialismo contra a URSS, como a reacionária guerrilha islâmica impulsionada pela CIA no Afeganistão... Na Polônia, reivindicou um governo de Lech Walesa e ‘todo poder ao Solidariedade’".

Apoio ao golpe na Venezuela

Mais recentemente, esta corrente entrou novamente em parafuso com os rápidos acontecimentos na Venezuela. Os seus seguidores se fragmentaram em vários pedaços. A maior referência do morenismo no país, o ex-deputado Alberto Franceschi, virou um dos principais porta-vozes da direita e foi um dos líderes da tentativa frustrada de golpe em abril 2002; tornou-se um próspero produtor agrícola e um poderoso empresário do ramo de transporte. Na década de 80, como líder do MIR, Franceschi foi peça-chave na fundação da LIT e, junto com Nahuel Moreno, escreveu as "Teses sobre guerrilherismo" (1986), um texto de polêmica com os revolucionários cubanos.

Já o seu sucessor, o Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), esbarrou no sectarismo da LIT ao apoiar o governo Hugo Chávez. Esta postura duramente rechaçada. "A posição do PST é tão vergonhosa que o seu próprio partido-irmão, o PSTU, denunciou que ‘o conjunto da esquerda apoiou Chávez... e o fez sem denunciar o seu caráter populista e demagógico’". Devido a estas fraturas, a LIT sucumbiu no país. Em documento recente, ela garante que Chávez "quer negociar com a direita e o imperialismo" e prega uma "oposição ao governo pela esquerda".

Divisão e falência na Argentina

Outro trauma se deu na Argentina e a ferida nunca se cicatrizou. Afinal, o morenismo nasceu neste país. Foi nele que teve início da militância de Hugo Miguel Bressano como assessor dos Sindicatos dos Têxteis (AOT) e dos Trabalhadores nos Frigoríficos Anglo-Ciabasa. Convertido ao trotskismo nos anos 40, ele se projetaria com o nome de Nahuel Moreno. A sua militância foi marcada por inúmeros ziguezagues, tanto que muitos o chamam de "camaleão político". Na sua trajetória, foi o construtor do influente Movimento ao Socialismo (MAS). Com o seu "otimismo voluntarista", tentou várias vezes apressar os fatos políticos, desprezando a correlação de forças.

Com o fim da ditadura e a vitória de Raul Alfonsin, profetizou o imediato trânsito ao socialismo. "Estão dados todos os elementos para que triunfe a Revolução de Outubro", profetizou. Estes equívocos aventureiros acabaram por implodir o MAS, o "partido-mãe" da LIT. Hoje a corrente morenista está reduzida a frangalhos, tendo a minúscula Frente Operária e Socialista (FOS) como filiada da LIT e quase uma dezena de seitas trotskistas. Apesar disto, ela permanece com a sua cegueira voluntarista. Após a revolta popular de 2001/02, ela concluiu: "Em nosso país se iniciou uma verdadeira revolução... que deixou em ruína o regime democrático-burguês".



fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=29228

Um comentário:

Anônimo disse...

Há liberdade em cuba?